sexta-feira, março 31, 2006

HERÓIS E BANDIDOS

As vezes chego a acreditar que tudo o que está acontecendo no Brasil envolvendo o governo, o PT e o Lulla é realmente uma grande armação das elites neoliberais, das direitas raivosas e das oposições invejosas, além da CIA, do FBI e do Chuck Norris é claro.

Convenhamos que é incompetência demais, mesmo em se tratando do PT e cia. Sinceramente não consigo acreditar que mesmo o PT e seus asseclas tenham competência para serem tão incompetentes assim. É muita coisa. É bobeira atraz de bobeira. É muita burrice mesmo para os padrões desta turma.

Só pode ser armação de alguem mesmo pois, pelas minhas contas, a cota de burrice desta turma já está no vermelho a muito tempo. E, além da burrice, Lulla, PT e cia estão com um baita azar. Deve ser karma mal resolvido das vidas pregressas.

Mesmo quando um fato pode ser contestado numa boa, com argumentos racionais que irão minimizar os danos prováveis, os ptistas metem os pés pelas mãos e, com a sutileza de um mamute num jardim, conseguem comprovar aquilo que negam. O caso do caseiro é típico. Poderia ser minimizado numa boa se elles tivessem um pouco mais de imaginação e menos truculência.

Vamos aos fatos.

Quando, depois do inferno astral desencadeado pela crise do mensalão, o Lulla começava a se recuperar e abrir vantagem sobre seus concorrentes. Quando os oposicionistas pareciam mais desanimados do que nunca pela escolha de Alkmin e não do Serra. Quando, enfim, as esperanças estavam se esvaindo eis que surge o Super Nildo, o "simples caseiro" que irá mudar os rumos do país, renovar as esperanças no futuro, aglutinar as forças que lutam contra as trevas e, se der tempo, acabar com a seca do nordeste.

Super Nildo, o mais recente herói brasileiro, é gente como a gente. Nascido de pai desconhecido e criado com grandes dificuldades pela mãe, uma simples doméstica. Antes de conhecer seus super poderes levava uma vida pacata e anônima, trabalhando como caseiro em uma mansão como tantas de Brasília.

Gente como a gente, Super Nildo, por não ter uma educação formal muito boa, não lia jornais, não ouvia noticiário nas rádios e muito menos assistia televisão. Internet, Blogs e correlatos então nem pensar.

Super Nildo as vezes conversava com o jardineiro que trabalhava em uma mansão vizinha, onde morava um senador da república. Super Nildo até que considerava este "simples jardineiro" como seu amigo. Conversavam sobre vários assuntos, deste futebol até os problemas do aquecimento global causado pelo efeito estufa, da guerra no Iraque e da política externa de Bush. Felizmente nunca falavam de política, do Lulla, escândalos, mensalão, compra e venda de deputados, enfim, destes assuntos sujos que ninguem gosta de discutir.

Dai que Super Nildo nunca soube que determinadas figuras do submundo tinham alugado, no passado, a mansão onde trabalhava e a utilizavam como ponto de encontro para negócios escusos e orgias com garotas de programa. E mais, que o próprio chefe da quadrilha frequentava a mansão.

Para nosso herói, gente como a gente, fatos como o de todas as despesas serem pagas em dinheiro vivo, de malas de dinheiro circularem pela mansão, de envelopes com dinheiro serem entregues para um alto funcionário de um ministério, das festas regadas a champanhe importada, mulheres e viagra não despertavam, jamais, maiores desconfianças. Afinal são coisas absolutamente normais que qualquer pessoa normal faz.

Como nosso herói poderia imaginar que o próprio chefe da quadrilha, aquele senhor simpático e educado, que mais parecia um gerente de funerária do que um bandido, e que era tão tímido que pedia para apagar as luzes e desligar as camaras de vídeo quando chegava, enfim, aquele senhor com uma aparência absolutamente anônima que havia comparecido na mansão umas 10 ou 20 vezes seria o bandido cuja foto aparecia quase que diariamente em jornais e na televisão?

Afinal o fato dele ser chamado de "Chefe" não tinha nada demais pois poderia ser uma forma carinhosa de tratamento. Ou, quem sabe, seu sobrenome.

E nosso herói jamais poderia deduzir que os locatários da mansão tinham desistido de usá-la quando um dos membros da quadrilha foi filmado estorquindo dinheiro de um empresário de bingos. Afinal o episódio praticamente não teve divulgação e quase ninguem sabia mesmo.

O tempo foi passando e nosso herói, gente como a gente, levava sua vidinha pacata, pouco ouvindo ou sabendo dos escândalos envolvendo os ex-frequentadores da mansão onde trabalhava. Afinal, nem tiveram tanto destaque assim não é? Como nosso herói poderia saber que um dos frequentadores, aquele que era apaixonado por uma das meninas que também era a preferida do "Chefe", havia sido preso e estava denunciando os esquemas do "Chefe"? Como nosso herói poderia saber que outro ex-frequentador estava sendo acusado num lance de levar dólares escondidos em caixas de bebidas? Como poderia saber que o próprio "Chefe" negava veementemente ter frequentado aquela mansão e jamais ter mantido qualquer tipo de relacionamento com seus ex-comparsas? Afinal quase ninguém sabia mesmo destas coisas.

Até que, num belo dia, nosso herói gente como a gente, fica sabendo que seu nome foi falado numa certa CPI que estava acontecendo e ele nem sabia. Claro que ele pensou que não era dele que estavam falando. Afinal existem milhares de Francenildos ou Nildos trabalhando como caseiros em mansões de Brasília.

Mas eis que seu destino de super-herói já estava escrito nas estrelas. Alguns dias depois de terem falado deste tal de caseiro que tinha um nome igual ao seu, alguns indivíduos que se identificaram como sendo da Polícia Federal apareceram, vindos do nada, e perguntaram se ele era ele. Claro que nosso herói respondeu que ele não era ele e que ele tinha se mudado e não morava mais lá onde ele morava. Claro que estes supostos policiais acreditaram que ele não era ele e que ele não morava mais lá e foram embora sem maiores considerações.

Mas este fato, banal na vida de qualquer cidadão brasileiro, tocou em algum centro nervoso de seu cérebro. E nosso herói viu a luz. Lentamente as peças deste enorme quebra-cabeças cósmico começaram a se encaixar e a fazer sentido para este "simples caseiro", gente como a gente. E ele percebeu que tinha sido usado pelas forças do mal.

E nosso herói viu, com total clareza, que seu destino era, a partir daquele momento, lutar com todas as suas forças contra o mal que assolava seu amado país. Surgia ai, nesse glorioso instante, Super Nildo, o defensor da verdade. O Davi que irá lutar e derrotar o Golias do mal. O "simples caseiro" que irá mudar os destinos da brava e sofrida nação brasileira.

Passando a ação, nosso bravo e impoluto caseiro, exemplo de vida e gente como a gente, procura um amigo que conhece um amigo que conhece um senador. Não o senador que mora na mansão vizinha àquela onde trabalhava, mas outro. Afinal para que complicar o fácil?

Nosso bravo caseiro conta toda a sua história de lutas para este nobre representante do povo que, sentindo-se incapaz de ajudar mais efetivamente nosso herói, decide apresentá-lo para uma repórter de um jornal de circulação nacional que estava disponível.

Esta brava representante da mídia brasileira, mídia esta que sempre lutou em prol do povo e jamais se submeteu a pressões políticas ou financeiras, sensibilizada pelo que ouviu resolve ajudar nosso herói publicando os fatos relatados. Isto não deveria surpreender ninguém pois é o procedimento normal da imprensa brasileira, sempre a favor da verdade doa a quem doer.

E nosso bravo caseiro, gente como a gente, viu-se no olho do furacão. Elogiado por muitos, odiado por outros, nosso herói esteve entre o céu e o inferno.

Quase chorou quando uma nobre senadora, que prima por sua delicadeza e sensibilidade, e que odeia aparecer, destacou que ele, Nildo, o "simples caseiro", era um exemplo para seus filhos. Sim, a mesma nobre senadora, defensora incansável da moral pública, e que já sabia das mentiras do "Chefe". Até já tinha denunciado os fatos, só que com tal clareza que ofuscou a nós, meros mortais, que esquecemos que o "Chefe" adora torta de camarão e seu perfume preferido é o Obsession. Como foi que esquecemos estes fatos tão óbvios?

Mas também sentiu toda a força do mal lançada contra si. Teve sua vida pessoal exposta ao povo. Seu sigilo bancário foi quebrado de forma ilegal. Ainda bem que ele, gente como a gente, estava tranquilo com o saldo em dinheiro na sua conta pois, afinal, o que tem demais trocar por dinheiro uma simples demanda judicial para ser reconhecido como filho? É um fato absolutamente normal na vida de qualquer um.

Mas, apesar de tudo, nosso herói perserverou. E lutou bravamente, garantindo que manteria suas afirmações até morrer. E mais e mais pessoas passaram a se posicionar a seu favor apenas para ajudá-lo nesta luta inglória sem jamais pensar em razões mesquinhas como aparecer para o povo pensando nas eleições que estavam próximas.

E nosso herói, gente como a gente, venceu. Repetindo a lenda, Davi derrotou Golias. Bem, na verdade o Golias de hoje ficou apavorado e acabou se suicidando mas isso não interessa. O que interessa é o impacto da comparação. Afinal é uma lenda bíblica.

A verdade é mais forte do que a mentira, afirmou nosso, e agora sábio, "simples caseiro".

E, de "simples caseiro", nosso herói agora é um símbolo da honestidade e exemplo para as gerações futuras por nunca ter compactuado e por ter denunciado, de imediato, todas as falcatruas que presenciou.

Agora que as coisas começam a ficar mais tranquilas, nosso mais novo herói faz planos para seu futuro. Está cogitando em posar para a G Magazine, talvez vender os direitos autorais para a Globo transformar sua história de vida em uma minisérie, talvez concorrer a algum cargo eletivo por algum partido "sério e honesto" ou, talvez, fazer como aquele outro brasileiro, gente como a gente, que colaborou para derrubar um presidente dito corrupto e, depois, passou a trabalhar no governo e nunca mais opinou em nada para não perder seu emprego.

Afinal, nada mais nobre do que ser "honesto" sem esperar nada em troca.

Por estas e por outras é que o Brasil ainda dá certo. Mesmo com estes heróis vagabundos que tentam nos impingir acabamos ganhando pois os bandidos são mais vagabundos ainda e colaboram intensamente para a sua própria derrota.

4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Marcelo; obrigado por visitar nosso blog. Infelizmente as práticas desonestas na política Brasileira não podem ser consideradas "normais" já que essa "normalidade" tem levado o Brasil a viver situações e atos de corrupção que atrasam e prejudicam o crescimento social e econômico de uma nação que não precisaria depender de ninguém. Então todo aquele que se utiliza de práticas desonestas não é a favor do Brasil. Seja quem for.

7:33 AM  
Blogger Alexandre, The Great said...

SENSACIONAL, Marcello.
Sua volta foi triunfal.

Nada mais representativo do atual episódio que a façanha bíblica de Davi contra o gigante Golias, perfeita.

Agradeço suas visitas e vou re-linká-lo lá no blog.

12:29 PM  
Anonymous Anônimo said...

Marcello, que bom que voltou!
Seu texto clro, inteligente e informativo fez falta.
E você voltou mais que perfeito.
Parabéns pelo post.

Beijos
P.S. E não ouse desaparecer novamente.

1:57 PM  
Blogger Marcello said...

Bento,

Agradeço tua visita. Já conheço o Mídia sem Máscara. As vezes visito mas te confesso que eles estão muito mais a direita do que eu gostaria ... rsrsrsrsrsrs.
Mas diga ai como chego no seu blog? O link ai em cima só manda para o profile e de lá não tem saida.
Abraços, Marcello

1:30 AM  

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